As Câmaras Municipais, outrora um espaço de debates, propostas e deliberações de interesse público, parecem ter inaugurado uma nova fase: a era das alcunhas. Esqueça a solenidade dos cargos eletivos, o respeito entre parlamentares ou a liturgia do parlamento. Agora, alguns vereadores referem-se a seus pares apenas pelos apelidos, como se estivessem em um boteco discutindo futebol, e não na tribuna de um Poder Legislativo.
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Por: Luiz Lunardelli
E não estamos falando de simples deslizes ocasionais, mas sim de um padrão que se repete. O vereador X levanta e emenda: "Pois bem, como disse o “Manecão”, esse projeto não faz sentido!". O outro responde: "Não concordo com o “Batatinha”, porque isso aqui tem que ser feito diferente!". E assim segue a sessão, entre Dudas, Manés, Patês, Gatos, Chimias e Tatus, como se a formalidade institucional fosse um estorvo e o decoro parlamentar, uma convenção antiquada.
A questão aqui não é apenas estética ou de gosto pessoal. O uso de nomes oficiais no plenário e nos registros da Casa Legislativa é uma exigência mínima de respeito e seriedade. Afinal, as atas dessas sessões não são peças de humor, mas documentos oficiais que registram os rumos do município. Imagine, daqui a algumas décadas, um pesquisador tentando entender os debates legislativos de 2024 e se deparando com frases como: "Conforme defendido pelo “Chicão dos Ovos”.... A seriedade do Poder Legislativo estará comprometida para sempre.
Se a moda pega, em breve poderemos ter emendas assinadas por “Neco da Praia*, requerimentos enviados por “Israel do Pastel” e até moções de aplauso aprovadas em nome de “Davi do Gás”. O que impede, então, um futuro presidente da Câmara de se referir ao prefeito apenas como “Zé dos Parafusos” ou ao governador como *Jorginho do Bolsonaro? A falta de decoro sempre começa pequena, até virar padrão e corroer por completo a instituição.
Mas não é apenas na linguagem que o decoro foi abandonado. O desfile de vestimentas no plenário de algumas Câmaras Municipais parece uma afronta à dignidade do cargo. Terno, blazer e gravata foram rebaixados ao status de peças cafonas, substituídos por um visual mais digno de um domingo de churrasco do que de uma sessão legislativa. Cabelos desgrenhados, camisetas amassadas e até sandálias de dedo passaram a compor o figurino de alguns vereadores, como se representar a população fosse algo que não exigisse o mínimo de formalidade e respeito visual. Quando a própria vestimenta grita descaso, não é de se surpreender que a postura e a oratória sigam o mesmo rumo.
Se alguns vereadores têm dificuldades em compreender a importância do protocolo e da postura parlamentar, talvez precisem de um curso básico de respeito institucional. Ou quem sabe de uma placa na tribuna, bem grande, com os dizeres: "Aqui é a Câmara Municipal, não a mesa do bar!". O eleitor, que confiou seu voto nessas figuras, certamente esperava um pouco mais de seriedade de seus representantes. E a história, implacável, cobrará seu preço.
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