O Sofrimento da Língua Portuguesa nas Tribunas
Publicado em 04/02/2025 06:58
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É desolador assistir ao massacre linguístico promovido por alguns políticos ao usarem a tribuna para se dirigirem à população. O espetáculo, por vezes, beira o grotesco: frases desconexas, erros crassos de concordância, palavras inexistentes e construções sem sentido são frequentemente acompanhados de raciocínios confusos e incoerentes. O que deveria ser um espaço de debate qualificado sobre os interesses públicos transforma-se, em muitos casos, em uma exibição de incompetência e despreparo, salvo honrosas exceções.

 

A tribuna é, em teoria, um dos lugares mais importantes para a formulação de ideias e propostas que impactam diretamente a vida da população. No entanto, quando ocupada por representantes que demonstram pouca familiaridade com a própria língua, a comunicação perde sua função primordial: informar, convencer e mobilizar. Em vez de clareza, os eleitores são forçados a decifrar discursos confusos, muitas vezes recheados de expressões improvisadas e de erros.

O impacto desse fenômeno vai além da simples dificuldade de compreensão. Ele reflete um problema mais profundo: o descrédito na política e na representatividade. O eleitor que assiste a um político assassinar a gramática e tropeçar na própria lógica tem razões para questionar se aquele parlamentar possui condições de legislar com competência e responsabilidade. Como confiar em quem não consegue formular uma ideia coerente? Será ele capaz de analisar projetos complexos e tomar decisões que influenciam a sociedade?

Alguns apelam para a justificativa de que são "homens do povo", que representam as camadas mais populares e que a sofisticação linguística não é uma exigência para a função. Contudo, essa desculpa é um desrespeito ao próprio eleitorado. Ser um representante do povo não significa menosprezar o idioma e a inteligência coletiva, mas sim buscar expressar-se com clareza e respeito. A linguagem é um instrumento de poder e, se mal utilizada, pode se tornar uma barreira entre o representante e os representados.

Essa situação também levanta uma discussão essencial sobre os critérios de escolha de nossos representantes. Ao votar, muitos eleitores priorizam questões como carisma, popularidade e assistencialismo imediato, deixando em segundo plano a capacidade intelectual e o preparo do candidato para exercer a função legislativa. O resultado é um parlamento repleto de figuras que, ao abrir a boca, expõem um abismo entre a função que exercem e a competência que deveriam ter.

A solução para esse problema passa por uma maior conscientização do eleitor sobre a importância do voto e sobre as habilidades mínimas que um parlamentar precisa possuir. Políticos não precisam ser eruditos, mas devem, no mínimo, ser capazes de se expressar de forma inteligível e coerente. Além disso, a educação pública de qualidade deve ser vista como prioridade para que futuras gerações de líderes não repitam esse ciclo de mediocridade.

Não se trata de um elitismo linguístico, mas sim de uma exigência básica de quem ocupa um cargo público: a capacidade de se comunicar bem para representar adequadamente os interesses da sociedade. Caso contrário, a tribuna continuará sendo palco de uma triste demonstração de incompetência, enquanto a inteligência do eleitorado segue sendo insultada a cada sessão.

Por Luiz Lunardelli

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