Eu era feliz e não sabia.
Hoje, quando alguém fala “furacão”, não é mais sobre o futebol do Figueirense.
Por Luiz Lunardelli
Publicado em 09/12/2025 16:46 • Atualizado 09/12/2025 16:48
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Sou de um tempo, e faço questão de sublinhar, em que ciclone era nome de time de várzea, tornado era coisa de filme americano com vacas voando em câmera lenta, e furacão era apenas o apelido de jogador de futebol trombador. Aqui no Brasil, o máximo que tínhamos era um vento sul forte que derrubava um varal ou outro. A gente se sentia protegido por um manto divino, uma redoma celestial, ou, na pior das hipóteses, um guarda-chuva de São Pedro com garantia vitalícia. E éramos felizes. Felizes e, claro, não sabíamos.

Mas aí, a partir de um dia, o clima acordou de mau humor.

Não sei se foi porque desmatamos a Amazônia mais rápido do que a capacidade dela de suspirar, ou se a Terra cansou do nosso jeitão desleixado e resolveu conversar com a gente, com gritos, trovões e ventos de 400 km/h.

Hoje, quando alguém fala “furacão”, não é mais sobre o futebol do Figueirense. É sobre aquela entidade meteorológica que, até outro dia, só visitava a Flórida e o Caribe, e que agora resolveu dar um pulinho no Sul do Brasil, como o ciclone que, no mês passado, fez uma cidade inteira do Paraná sair no telejornal como se fosse figurante de filme pós-apocalíptico.

E aí vêm as perguntas dramáticas, quase shakespearianas:

- O que aconteceu com o clima?

- Por que o Brasil entrou de uma hora para outra na rota dos furacões?

- Onde foi parar o nosso paraíso tropical, tranquilo, morno e previsível?

A explicação científica é séria, mas podemos tentar uma versão mais palatável e bem-humorada:

1. A Terra cansou.

   Depois de décadas avisando educadamente, com veranico estranho, seca fora de época e um frio danado no mês de outubro, ela decidiu pegar pesado: “Já que vocês não entendem bilhete, vamos ver se entendem vendaval”.

2. O ar-condicionado global entrou em curto.

   Antigamente, o planeta era um aparelho de 12 mil BTUs, firme e forte. Hoje funciona igual ar-condicionado velho de escritório: esquenta quando devia esfriar, pinga água no carpete e faz um barulho esquisito antes de desligar sozinho.

3. Estamos buscando protagonismo.

   Já pensou? O Brasil sempre foi o país do samba, do futebol, das praias e da caipirinha. Agora, ao que tudo indica, resolveu concorrer também na categoria “Eventos Climáticos Extremos”. Uma espécie de rebranding, só que ninguém pediu por ele.

Mas, falando sério por 30 segundos: as mudanças climáticas vêm sendo aceleradas por ações humanas, desmatamento, emissão de gases, urbanização sem planejamento e aquele velho hábito de acreditar que natureza é tema de redação do Enem e não algo que exige responsabilidade real.

Então a pergunta final é:

- Para onde estamos indo?

Se nada mudar, vamos rumo a um Brasil com as quatro estações do ano... todas no mesmo dia. Manhã de verão, tarde de primavera, noite de outono e madrugada de inverno polar, tudo isso acompanhado do risco ocasional de um ciclone fazendo check-in no litoral.

E o que podemos fazer para tentar reverter esse quadro?

– Respeitar mais o meio ambiente, antes que o meio ambiente perca a paciência de vez.

– Cobrar políticas públicas que não tratem ecologia como assunto opcional.

– Diminuir aquela mania de achar que reciclagem é coisa de quem não tem o que fazer.

Porque, convenhamos, aquele Brasil do paraíso tropical ainda mora na nossa memória afetiva. E quem sabe, com bom senso, ciência e uma pitada de humildade, a gente consiga convencer o planeta a nos dar mais uma chance.

 

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