Conceda-me um Aparte, Excelência!
Se a arte de bem discursar faz parte da Política, então a Câmara Municipal de Biguaçu está praticando uma espécie de teatro do absurdo. Em sessões que mais parecem maratonas de paciência, a média de duas horas à frente das câmeras se transforma em um verdadeiro festival de apartes desnecessários, redundantes e, não raras vezes, bajulativos.
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Publicado em 13/03/2025 por Luiz Lunardelli

 

 

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Por Luiz Lunardelli

E se você imaginou que o povo está acompanhando com afinco esse espetáculo legislativo, enganou-se redondamente. As audiências nas transmissões ao vivo pelo YouTube são tão baixas que até parece que o algoritmo tem vergonha de recomendar.

O aparte, para quem ainda acredita no significado original da palavra, é uma intervenção breve e respeitosa, pensada para enriquecer o debate. Serve para esclarecer pontos, fazer questionamentos ou, quem sabe, apresentar um contraponto inteligente. Mas em Biguaçu, esse nobre instrumento de interação parlamentar foi sequestrado e transformado em uma máquina de massagear egos inflamados. "Excelência, permita-me um aparte para dizer o quão brilhante e iluminado foi seu raciocínio!". E lá se vai mais um minuto da vida que não volta nunca mais.

Vamos aos números (porque eles nunca mentem, ao contrário de certos discursos): se cronometrarmos apenas a parte produtiva dessas sessões, o resultado seria constrangedor. Em vez de duas horas, talvez sobrassem vinte minutos de discussão objetiva e relevante. Vinte minutos! O resto? Um show de vaidades, com direito a muito aplauso silencioso, olhares de cumplicidade e aquele clima amistoso de quem troca elogios como quem troca figurinhas repetidas.

O que deveria ser uma ferramenta para o fortalecimento do debate virou uma senha para adulação. É o "puxasaquismo" institucionalizado, com microfone aberto e tudo. E enquanto isso, o povo - aquele mesmo que paga o salário dos nobres parlamentares - assiste, ou melhor, não assiste a nada. Porque quem em sã consciência gastaria seu precioso tempo acompanhando uma sessão em que o grande destaque é quem conseguiu bajular melhor?

O regimento interno, claro, fala em brevidade, pertinência e respeito. Mas quem se importa? O que vale é a camaradagem, o sorriso amarelo e o afago no ego do colega. E se, no final, o povo não entendeu nada do que foi discutido, problema é dele. Afinal, democracia é isso aí: um espaço de debate vazio, mas recheado de elogios gratuitos.

Fica o desafio: e se os parlamentares de Biguaçu tentassem uma sessão sem apartes bajulativos? Será que a discussão se tornaria mais objetiva? Mais produtiva? Quem sabe até atraísse alguns expectadores curiosos, interessados em ver uma câmara que trabalha de verdade. Até lá, seguimos com a velha máxima: "Conceda-me um aparte, Excelência, mas apenas se for para dizer o quanto eu admiro sua sabedoria infinita!"

E o povo? Ah, o povo segue esperando por apartes mais produtivos e discursos que realmente interessem a quem tem a coragem de assistir.

Nesse contexto é de se louvar a sabedoria do Vereador Manoel José de Andrade (Maneca), o decano da nossa Câmara, que entra mudo e sai calado na maioria das sessões.

 

 

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