A dona de um cachorro SRD foi presa em flagrante na última sexta-feira (14) após diversas denúncias de maus-tratos realizadas por meio das redes sociais. O animal estava em uma residência de Biguaçu, e apresentava sinais visíveis de desnutrição.
Enquanto lê a notícia, clique aqui para ouvir a Radio Delta Floripa, a emissora que só toca música boa.
Por: Luiz Lunardelli
Depois de receber as denúncias, a Polícia Civil foi ao local juntamente com agentes da Fundação Municipal de Meio Ambiente de Biguaçu (FAMABI). Lá, encontrou o cão em um espaço isolado, nos fundos da residência, no sol, sem alimento e sem água, mesmo com o calor extremo registrado nos últimos dias. Além disso, ele estava com as costelas aparentes.
Conforme a tutora, ele estava no local há cerca de seis meses. Assim, os policiais deram voz de prisão à mulher e a encaminharam à Delegacia da Comarca de Biguaçu. Lá, os agentes lavraram o Auto de Prisão em Flagrante da suspeita pelo crime de maus-tratos a animal doméstico.
Os agentes da FAMABI, em parceria com Organizações Não Governamentais (ONGs), recolheram o animal. Depois disso, ele recebeu atendimento veterinário e teve o diagnóstico de desnutrição e anemia. Por fim, a mulher foi para o Presídio Feminino de Florianópolis. Não há informações sobre a audiência de custódia.
Justiça Cega, Mas Com Olfato Seletivo
Talvez, se os ladrões comuns, os colarinhos brancos e os traficantes fossem tratados com a mesma ferocidade dispensada a uma dona de casa negligente, tivéssemos um Brasil um pouco menos injusto. Mas parece que a justiça tem prioridades bem peculiares. Afinal, roubar um país é perdoável. Esquecer-se de alimentar um cachorro, nem pensar.
Imagine a cena: enquanto um bando de engravatados desfruta de um bom vinho adquirido com dinheiro de propinas, e jovens delinquentes percorrem as ruas esbofeteando idosos para levar seus celulares, a Polícia Civil de Biguaçu, num impressionante ato de eficácia, prende uma dona de casa. O crime? Ter negligenciado os cuidados de seu cachorro, que foi encontrado desnutrido e sem água sob o calor infernal dos últimos dias.
Não, caro leitor, não estamos subestimando o valor da vida animal. A irresponsabilidade da mulher é inquestionável. Um cachorro, assim como qualquer ser vivo, precisa de comida, água e um mínimo de dignidade. Mas aí vem a grande reflexão: se a justiça age com esse rigor contra quem esquece de encher o pote de ração, onde está esse mesmo furor legal contra os meliantes que nos assaltam à luz do dia e saem no mesmo instante pela porta da frente da delegacia?
A dona de casa foi levada diretamente para o Presídio Feminino de Florianópolis. Não houve conversa, não houve a chance de sequer alegar descuido, desinformação ou mesmo falta de recursos. A justiça foi rápida e implacável. Curioso, não? Um figurão da política pode passar anos desviando dinheiro público dentro das cuecas para contas no exterior e, quando pego, responde em liberdade. Um traficante endinheirado pode ter um exército de advogados garantindo que ele nunca passe uma noite sequer na cadeia. Mas uma mulher que não soube cuidar de um cachorro? Tratem-na como uma criminosa perigosa, porque, pelo visto, é a que mais ameaça a sociedade.
O rigor seletivo do sistema penal é de fazer inveja a qualquer roteirista de ficção. Maus-tratos a animais são, sim, um problema grave e devem ser combatidos. Mas e os maus-tratos contra a população? Contra as vítimas de assaltos diários, contra quem espera anos na fila do SUS, contra os idosos espancados para terem seus trocados roubados à luz do dia? Para esses casos, o Estado cochila, indiferente, esperando a indignação esfriar.

Clique aqui e faça parte do grupo de notícias do WhatsApp da Radio Delta Floripa