A política de Biguaçu parece estar condenada a uma eterna infância, incapaz de crescer e assumir responsabilidades maiores. Desde sempre, a cidade conseguiu o grandioso feito de eleger um único deputado estadual: Lauro Locks. Um feito heroico, digno de ser lembrado em praça pública. Mas por que, depois dele, ninguém mais conseguiu esse feito? O mistério da política biguaçuense desafia até os melhores cientistas políticos – ou, quem sabe, um bom roteirista de novela.
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Por Luiz Lunardelli
A resposta, claro, não está em nenhuma conspiração ou maldição ancestral, mas sim no ambiente político local, onde os vereadores se transformaram em peças-chave de um tabuleiro viciado. Em tempos idos, ser vereador era uma honra, uma função exercida com orgulho, sem qualquer tipo de remuneração. Hoje, a coisa mudou – e como! A política virou profissão, e os vereadores se tornaram fiéis escudeiros de deputados estaduais importados de outras plagas, aqueles que despejam generosas emendas parlamentares no município, garantindo, assim, a fidelidade canina dos seus aliados.
Sim, as benditas emendas parlamentares, esse dispositivo mágico que transformou a política em um grande mercado persa. Com dinheiro público estrategicamente distribuído, os deputados estaduais conquistam corações e mentes dos vereadores, que retribuem com votos e elogios rasgados. A situação é tão absurda que, na primeira semana de atividades da Câmara, quatro vereadores já fizeram verdadeiras declarações de amor aos seus deputados de estimação. Se fecharmos os olhos, até conseguimos ouvir uma trilha sonora romântica ao fundo.
Diante desse cenário, qualquer político local que sonhe em disputar uma vaga na Assembleia Legislativa precisa de uma coragem sobre-humana – ou, no mínimo, uma estratégia infalível para contornar a barreira de interesses já consolidados. Sem o apoio irrestrito dos vereadores (ou seja, sem convencê-los a abrir mão dos mimos de seus padrinhos políticos), qualquer candidatura autêntica de Biguaçu está fadada a ser engolida pelo fisiologismo dominante.
E assim, a cidade segue firme no seu posto de coadjuvante no tabuleiro da política estadual. Os vereadores continuam devotos aos seus deputados de fora, as emendas continuam chegando como presentes de um Papai Noel institucionalizado, e Biguaçu segue sem representantes próprios na Assembleia. Se um dia a cidade decidir eleger um deputado genuinamente biguaçuense, será necessário um milagre – ou, no mínimo, um surto coletivo de independência política. Mas sejamos francos: em tempos de emendas e lealdades compradas, acreditar nisso pode ser tão ingênuo quanto esperar que vereador rompa o cordão umbilical que o liga ao seu deputado-padrinho.
Até lá, resta ao eleitor de Biguaçu assistir ao espetáculo da política local como quem assiste a uma peça de teatro onde o enredo nunca muda. Os personagens sim, de tempos em tempos, mas o roteiro? Esse continua o mesmo.

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